Exossomas no cancro.

Estudo identifica potencial mecanismo através do qual as células cancerosas conseguem afetar células saudáveis no organismo: estamos a falar de exossomas no cancro. Um estudo [1] publicado na respeitada revista Cancer Cell mereceu um editorial [2] na renomada revista científica Science Journal, reconhecendo o seu impacto no avanço do tratamento do cancro. A investigação foi conduzida pela portuguesa Sónia Mello em colaboração com o grupo de pesquisa em oncologia e Medicina de Harvard, abrindo portas para aprimorar o diagnóstico e tratamento de pacientes oncológicos. Os investigadores conseguiram demonstrar que as células tumorais têm a capacidade de transformar células normais em células cancerosas através de exossomas. Os exossomas consistem em nanovesículas secretadas de uma variedade de tipos celulares que circulam em fluidos biológicos tais como urina e sangue (plasma). Os exossomas são capazes de “sequestrar” conteúdos destas células (ex. lipídios bioativos, ácidos nucléicos e proteínas) e “transferi-las” para as células vizinhas, induzindo frequentemente alterações fisiológicas. Quando falamos de cancro, podemos logo pensar sobre o papel fundamental destas vesículas minúsculas na progressão tumoral e metástases. Melo e colaboradores mostraram que exossomas, a partir de células de cancro de mama, transferem microRNAs (um dos principais mecanismos epigenéticos) para as células normais, estimulando-as a se tornarem cancerosas. Este estudo potencialmente amplia o conhecimento sobre os mecanismos pelos quais o cancro se espalha no organismo. Por outro lado, os exossomas podem induzir ainda resistência à #quimioterapia por conseguirem “sequestrar” os agentes terapêuticos e estimular as metástases. Os autores mostram que somente os exossomas derivados de células cancerosas, mas não aquelas que derivam de células normais, contem enzimas chaves envolvidas na biogénese de microRNAs, tais como os DICERs. As DICERs quando acumuladas dentro de exossomas cancerosos estimulam a maturação de miRNAs “cancerosos” (oncomiRs), que quando se encontram com uma célula normal mamária humana, por exemplo, induz a sua transformação neoplásica. Apesar dos resultados que fazem os olhos dos cientistas e oncologistas brilharem com este grande avanço em busca da cura do cancro, e apesar do valioso reconhecimento de que tais resultados possam proporcionar oportunidades promissoras para desenvolver diagnósticos e terapias oncológicas à base de exossomas, a revista Science reforça que ainda são necessárias mais investigações em modelos animais. E, então, nos perguntamos: e qual o envolvimento da Nutrição perante estes resultados tão relevantes para o avanço do tratamento do cancro? O aspecto mais interessante é que os nutrientes e compostos bioativos de alimentos podem “conversar” com os miRNAs envolvidos na iniciação e progressão tumoral. Se avaliarmos o impacto desta relação dieta-microRNAs no mesmo modelo de carcinogênesemamária em que foram estudados os exossomas citados anteriormente, começamos a identificar evidências relevantes na comunidade científica acerca do impacto de nutrientes como a vitamina D e os ácidos gordos ómega 3 na quimioprevenção do cancrodemama mediado por microRNAs [3,4]. Caminhando a passos largos e acompanhando os avanços da Medicina em patologias complexas como o cancro, a Nutrição pode representar uma ferramenta chave no estabelecimento de estratégias genómicas nutricionais que viabilizem a detecção e prevenção precoce de inúmeros tipos de cancro. Equipa NutriGenome Referências: ]1]Melo SA et al. Cancer exosomes perform cell-independent microRNA biogenesis and promote tumorigenesis. Cancer Cell. 26(5):707-21, 2014. [2]Anastasiadou E & Slack FJ. Cancer Malicious exosomes. Science. 19;346(6216):1459-60, 2014. [3]Kasiappan R et al. Vitamin D suppresses leptin stimulation of cancer growth through microRNA. Cancer Res. 1;74(21):6194-204, 2014. [4]Mandal CC et al. miR-21 is targeted by omega-3 polyunsaturated fatty acid to regulate breast tumor CSF-1 expression. Carcinogenesis. 33(10):1897-908, 2012.